Pretendo,sim, ser mãe novamente. É desejo meu e do Rodrigo termos um outro filho, não necessariamente em seguida, mas um dia, sim.
E eu também quero um parto normal.
É um sonho antigo e vou lutar por ele, sempre pensei que meu filho nasceria de modo natural, sem intervenções desnecessárias, muito menos uma cirurgia. Mas, infelizmente, as circunstâncias nos empurraram para a faca, e graças a Deus ele nasceu com saúde, mas não escondo minha frustração por não ter parido conforme a natureza me preparou.
Quando me descobri grávida, muitas pessoas me diziam que eu não ia conseguir parir, que seria muito mais seguro (em que universo??) fazer uma cesariana. Mas isso nunca foi uma opção pra mim. Na minha concepção, parto é parto, cesariana é CIRURGIA, não é parto. Na cesárea a mulher é passiva, drogada anestesiada, coadjuvante. Conhece o bebê já enrolado em panos, fica imóvel por horas. Eu nunca quis isso pra mim.
Me lembro quando chegamos na maternidade, eu com contrações a cada 3 minutos. Doía. Mas era uma dor "boa", de saber que não demoraria muito para conhecer o meu bebê. Mas tudo mudou quando me colocaram na sala de pré-parto, deitada, imóvel, e no soro. Ah, o inocente "sorinho*", que eu disse pra enfermeira que não queria, pois sabia que era ocitocina sintética pra acelerar as contrações. Mas, quem disse que grávida tem querer? Dá-lhe soro. As contrações ficaram muito mais doloridas. Uma dor desnecessária, pois o meu corpo podia produzir sua própria ocitocina e tudo aconteceria no tempo certo. Mas não. O hospital precisa dos leitos, sabe como é.
Enquanto enfrentava as doloridas contrações, já sem poder me mexer, precisava receber uma turma inteira de estudantes que não sabiam NADA. Cada um que fazia o exame de toque dizia que o meu bebê estava numa posição diferente. E minha dilatação passava de 6 pra 4 cm, pra 7 e por aí vai. Cada um dizia uma coisa e ninguém para pra pensar no risco de infecção que esse monte de exame de toque oferece.
Assim que cheguei no hospital, entreguei à equipe a minha carteirinha de gestante, onde constava todos os detalhes da minha gravidez, inclusive estava escrito bem grande que o bebê tinha uma circular de cordão. Mas eles nem olharam a carteirinha. E quando, depois de 10 horas, a dilatação se completou e eu poderia começar a expulsão, o GO de plantão percebeu que o bebê não estava encaixado. Que não importava a força que eu fazia, ele não ia descer. Cirurgia, então.
Na hora não contestei, estava tão cansada! E sempre pensei que a cesariana existe para isso: salvar vidas. Uma alternativa quando o parto não é viável. Nunca uma primeira OPÇÃO.
Claro que tem toda uma máfia "quadrilha" por trás desse assustador índice (90%) de cesárias na rede particular/convênios: hospitais que produzem bebês em massa, com dia e hora marcados, pra ganhar mai$$, médicos de convênio que preferem agendar um parto para não precisar desmarcar um dia inteiro de consultório. Tudo feito conforme a disposição do médico. A mãe que se encaixe. Afinal ela é só um coadjuvante, não é mesmo? Daí surgem aquelas fotos de nascimento cirúrgico: todas absolutamente iguais. Mãe imóvel, dopada, maquiada, sorridente, bebê enrolado. Sem emoção.
Eu me pergunto se uma mulher bem informada, que foi devidamente orientada por um profissional humanizado, que não pensa só no dinheiro, toma a decisão de conhecer o seu bebê desse jeito. De permitir que ele nasça assim de repente, através de um corte. Que ele seja literalmente ARRANCADO de dentro dessa mãe, muitas vezes puxado pelo pescoço, com força. Que o bebê saia do ambiente seguro que conhecia até então para as mãos enluvadas de um estranho que enfiará um aspirador sem piedade no seu narizinho. Que só depois de todo procedimento de pesar, medir, limpar, aspirar esse bebê vai dar uma olhadinha na sua mamãe. Pois a mesma precisa ter as tripas recolocadas no lugar, se recuperar da cirurgia, pois sim: CESÁREA NÃO É PARTO, É UMA CIRURGIA BASTANTE INVASIVA. Uma mãe realmente consegue optar por isso? Pra mim, só depois de muita lavagem cerebral! A natureza não nos fez com zíper na barriga!
Eu quero um parto normal. Quero ser protagonista no nascimento do meu filho. Eu confio no meu corpo, fui feita pra isso. Claro que, às vezes, acontecem coisas fora do nosso alcance, e uma cirurgia pode se fazer necessária. Mas só quando precisa mesmo. Minha escolha sempre foi um parto natural. Não acho normal isso de escolher a data do nascimento de um filho. O bebê nasce quando está pronto! Ainda que eu precisasse fazer uma outra cesária, pelo menos esperaria o TP começar, pra ter certeza de que meu bebê estaria pronto pra vir ao mundo! Agendar parto! Que idéia!
O que aconteceu com meu filho para ele não encaixar?
Elementar, caro GO de plantão. Assim que abriu minha barriga, o dotô descobriu que o Erich tinha uma circular de cordão e um nó verdadeiro que passavam bem onde ele deveria encaixar a cabecinha. O cordão atrapalhou o encaixe? Não é impossível. Não estava na hora dele nascer? Nunca vou saber. Depois de tanta intervenção, impossível ter certeza.
*Quer ferrar uma parturiente, é só dar "sorinho" pra ela. Muitas mulheres desistem de ter mais filhos por conta da DOR que o inocente "sorinho" proporciona. Todas temos o direito constitucional de optar por não querer o sorinho, mas onde ele é respeitado? #violência obstétrica